segunda-feira, 17 de junho de 2013
Verdade. No
dicionário, principio certo; qualidade do que é verdadeiro; exatidão. Na vida,
autenticidade; boa-fé; sinceridade. Definições básicas para um dos sinônimos de
‘axioma’. E, para o caso de o leitor ter dúvidas, a designação de ‘axioma’ é,
basicamente, realidade. Realidade que é sempre, de uma forma ou outra, ligada
diretamente à verdade, pois uma não pode viver sem a outra, são como o corpo e
a alma e o espírito.
Verdade. Tão
bela e culta, parece sempre ter existido, entretanto, condiciono-me a acreditar
que alguém a inventou, ou pensa tê-la criado. É assim com tudo o que nos cerca
- em termos de matérias e definições - só a percebemos após uma criatura tão criativa,
que pôde enxergar o inaudito no trivial, mostrá-la a nós.
Doravante, deixando
um pouco de lado as significações cultas escritas pelos grandes mestres da
Língua, vou informar-lhes o motivo de tanta faladeira: a elucidação da razão
pela qual ‘verdade’, definida ou não pelo livro de desígnios, tanto me atrai. Talvez
nem eu o saiba, porém tentarei descrever esse sentimento enigmático e
inexplicável que eu e a humanidade nutrimos pela verdade.
Acredito que
uma estória seria a melhor forma de atingir meu objetivo, entretanto ao falar
da verdade não deveríamos apenas dizer veridicidades? Quiçá uma anedota,
contudo ouve-se por aí que anedotas são famosas pela sua efemeridade e nada do
que é efêmero poderia ajudar-me a alcançar meu intento. Porventura,
consideraria aqui narrar uma aventura verídica e longa que atende a todas as
exigências minhas, no entanto prolongar-me causaria apenas sono naqueles com
demasiada capacidade intelectual como também nos desprovidos de instrução.
Adianto-me a dizer, então, que irei improvisar, exercendo o famoso ‘jeitinho
brasileiro’.
E aqui começam
os verdadeiros obstáculos, porque em um texto é difícil não aumentar o que
queríamos dizer, dando mais emoção a narrativa. Todavia, ater-me-ei a não
mentir ou usar de ficção. Por falar em
ficção, recordo-me de coisas da vida diária, acontecimentos corriqueiros que,
de certa forma, se tornaram inusitados no contexto em que se inseria que dariam
belas crônicas. Não ousarei, porém, contá-las aqui; pensarão tratar-se de uma
mentira deslavada, e nada há de pior queridos leitores, que contradizer-se.
Contudo, nesse
ínterim, é difícil conter o ímpeto de narrar-lhes fatos periódicos. Este
impulso aflora em mim a lembrança de uma noite, daquelas em que a lua está bem
alta no céu e as estrelas capazes são de iluminar todo o universo padrão e
ainda um alternativo, ou vários, criados em sonhos pelas mentes férteis dos
artistas que não se encontram mais entre nós, mas que pelos pensamentos e
ideias tornaram-se imortais e foram elevados a outro patamar em que nós,
humildes seres humanos, jamais chegaremos sequer a tocar.
Nesta noite
fora marcado um encontro de amigos – eu e mais cinco marotos de minha laia -
para divertimento, que com absoluta certeza seria encerrado com a maior parte
de nós em estado quase que avançado de embriaguez. Lá pelas tantas da
madrugada, hora em que já nos ríamos pelas ventas, passa junto a mim um doido.
Convidamo-lo a sentar-se à mesa e beber da boa cachaça. Começamos então a dizer
inutilidades e babaquices, conseguíamos, entretanto nos entender, assim como um
louco compreende o outro. E, não sei o porquê, passamos a falar sobre a
verdade; assunto que é sabido do leitor, de que gosto bastante. Lembro-me
exatamente do momento em que o homem, em estado de maior desvairo que o normal,
soltou meio que sem querer uma das frases mais inteligentes que já ouvi em toda
a minha vida de vadio: “A verdade é tudo e é também nada. Tudo porque nós,
homens, a queremos como aspiramos à boa vida. Nada porque é sabido que no mundo
de hoje, poucos são os verdadeiramente sinceros. Todos mentimos, meus amigos!”.
A frase me marcou.
Marca-me até hoje. Reflito sobre seus ocultos significados como um religioso
reza a Deus pela remissão de seus pecados. A única conclusão a que cheguei e
que, ainda assim não pode ser considerada conclusiva, é que ninguém pode
afirmar-se completamente verdadeiro. Possuímos sim o desejo de sê-lo, no
entanto, seria a vontade, e apenas ela isolada, suficiente para sermos
fidedignos? Creio que não. Mas também não seria a mera ação que satisfaria o
desejo de ser autêntico, e nem de classificar alguém como tal. Afinal, ninguém
sabe o que o outro pensa e isso gera dúvida. Ninguém sabe como o outro reagirá
à determinada situação e isso gera dúvida. Na dúvida, a maioria de nós mente.
Vem aí então
outra questão, admitir que contou uma lorota torna a pessoa honesta? Talvez.
Mas ela ludibriou outro indivíduo; seria isso ser verdadeiro? A resposta
natural e provável é ‘não’.
Dessa forma,
posso dizer hoje, em avançada idade e nem um pouco mais sábio que quando jovem,
que temos uma verdadeira necessidade de buscarmos a verdade, acreditando que
ela esclarecerá o mistério que cerca a vida e seus acontecimentos.
Dou agora
elucidada a razão pela qual ‘verdade’ tanto me atrai. Deixo cabida ao leitor à
missão de encontrar tal explicação no texto, deixando-o a mercê de suas
faculdades interpretativas.
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