quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Existe um ditado que diz que “de perto ninguém é normal”.  Ele é confirmado pelas manias que todos possuímos e pelas características inerentes a cada um que são completamente estranhas ao outro. Mas, o ditado só é verdadeiro porque, no universo, tudo é diferente. As pessoas não são iguais. Cada uma delas é um mundo totalmente original inserido num padrão comum a todos.
O padrão é o Grande Criador de conceitos pré-estabelecidos que possibilitam a existência de preconceitos e do machismo. É ele quem dita o que devemos ser; como devemos agir e o que é politicamente correto. A parte conservadora da sociedade faz dele um deus, cujos mandamentos guiam toda a sua existência.
Quando um indivíduo quebra este padrão, ele é julgado. O diferente é censurado e incompreendido. Não importa que todos nós tenhamos algum tipo de particularidade. Sempre existe um estranhamento e até mesmo uma recusa em aceitar aquele que se admite desigual.
Na crônica “O Nariz”, de Luís Fernando Veríssimo, toda essa estranheza é retratada. A recusa e o preconceito são abordados quando todos acreditam que o dentista está louco porque decidiu usar um nariz postiço e alguns, inclusive, o abandonam por conta disso.
As pessoas ao redor desse dentista não perceberam, em momento nenhum, que ao vestir aquele nariz novo ele estava sendo apenas ele. É como o escritor norte-americano John Green disse em Cidades de Papel: “Ou nós os idealizamos como deuses ou os dispensamos como animais.”. De fato, quando o outro ser humano não age de acordo com o deus que imaginamos que ele era, nós o recriminamos.
Ao fim da crônica, o dentista questiona: “Quer dizer que eu não sou eu, eu sou o meu nariz?”. A resposta é afirmativa. Sim, para a maior parte da sociedade, conservadora e arcaica, ele se tornou o nariz. Sim, a polêmica foi gerada pelo uso do nariz postiço. Sim, ele sofreu preconceito por conta de um nariz. Contudo, o nariz não era ele. Apenas refletia uma característica excêntrica dele. Uma característica que até então não fora notada porque as pessoas o idealizavam como um deus.
Acontece que ninguém é um deus. Todos somos humanos, cheios de rachaduras e problemas. Cada um com seus fios soltos e conexões julgadas erradas. E, todos os dias, somos analisados. Conclusões precipitadas são tiradas de nós por conta de algo “esquisito” em nossa personalidade. Isso é uma marca da mania que a sociedade tem de criar padrões de comportamento, de beleza, de estilo, disso e daquilo... Mas é também o conservadorismo não abrindo as portas para o novo.
A solução do problema do dentista é simples: deixar de se importar. Não é saudável procurar agradar a todos, não é inteligente ser uma “ideia de pessoa”. Você nunca será aquela imagem que criou de si.

É muito mais importante ser feliz.

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